HEIDI TABACOF

Idealizadora e diretora do projeto

Nasci na Bahia, descendente de avós judeus imigrantes da Bessarábia e pais baianos, que resolveram se mudar com cinco flh@s para São Paulo, em 1970. As dificuldades dessa ruptura me levaram à faculdade de Psicologia, talvez por ainda não saber que podia demandar uma psicoterapia. Por sorte, me apaixonei. Antes da mudança de cidade, eu queria fazer alguma coisa na área das comunicações. Tanto quis que, meio sem pensar, cheguei à criação de um projeto audiovisual no campo da Psicanálise.

O ato inaugural foi a direção do documentário Psycuba, em 1986, seguido do estabelecimento do Núcleo de Psicanálise, Cinema e Vídeo, no ano seguinte. O núcleo realizou, além de outros documentários, o curta-metragem ficcional A mulher do atirador de facas, com argumento em um conto de Lúcia Lima, amiga da faculdade e parceira de toda a vida. O filme foi reconhecido, passou por festivais e recebeu vários prêmios.

A ideia da série Psicanalistas que falam surgiu, décadas depois, em conversas com a Lúcia. Falar sobre tudo, inquietas, animadas ou aflitas, sem perder uma gargalhada jamais, nos ajudava a viver e entender o mundo, achando que transformá-lo é um problema nosso – nossa responsabilidade, esperança e arte.

Em 2015, quando as forças mortíferas da extrema direita avançavam aqui e em toda parte, pensamos que uma forma de intervir e resistir era filmar, para documentar e circular amplamente, na internet, testemunhos de protagonistas da história do movimento psicanalítico engajados em uma prática clínica rigorosa, democrática e libertária, defensores de uma ética da pluralidade.
Psicanalista clínica e institucional no consultório e nas ruas, atuo como professora e supervisora em instituições públicas e privadas, interessada na transmissão da psicanálise para além das estreitas e elitizadas fronteiras institucionais.

Ao mesmo tempo dentro e fora dessas fronteiras, além de presente no ensino e na clínica, sou instigada a pensar estratégias político-psicanalíticas para criar e profanar dispositivos de gestão e produção, a serviço da democratização dos recursos disponíveis. Trago algumas referências: o Curso, a Incubadora de Ideias e o Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae; a Clínica pública de psicanálise da Vila Itororó; o Hospital-dia A Casa; o Ambulatório de Saúde Mental do largo Treze de Maio e o CEFOR, Centro de Formação da Prefeitura de São Paulo.

Na origem da minha trajetória está a fundação da ADC, Associação para o Desenvolvimento do Cidadão, em 1980. O projeto multiprofissional partia da percepção e denúncia de uma política genocida em curso, que atentava contra a vida de adolescentes negros e negras, nas periferias. Éramos jovens psicólogos reichianos, conduzindo grupos terapêuticos com presidiários na cadeia pública e também com meninas e meninos, ditos menores infratores, no Largo de Osasco.
Sempre preferi pensar e operar em grupos e coletivos por serem mais potentes, criativos e divertidos, sobretudo quando dispostos a enfrentar os inevitáveis conflitos internos.

Comecei a usar a câmera vhs ao entendê-la como uma máquina de escrever que reproduz, além das palavras, a presença sensível do corpo de quem fala. Gosto de escutar, de ler e de escrever histórias. Construir narrativas audiovisuais com os testemunhos pessoais de protagonistas da História da Psicanálise me entusiasma.

Uma forma nova de registro a incluir na rica sopa de letras dos nossos documentos e arquivos, com a possibilidade única de fazer circular amplamente, através dos meios de comunicação de massa, as ideias da psicanálise sobre a subjetividade e o inconsciente, intra e extra muros.

De lá para cá, do vhs à Internet, lançad@s ao fluxo vertiginoso da dadosfera que habitamos e que nos que habita agora, um número cada vez maior de psicanalistas ocupa as redes, usufruindo de um espaço de fala, de construção e circulação do saber aparentemente infinito.

Convocada pelos tambores do tempo, engajei-me em novas trincheiras. Uma delas, incandescente, é a inclusão das questões raciais, d@s analistas negr@s e suas produções, no campo da psicanálise brasileira. Faço parte de uma rede em contagiante movimento de expansão, que articula ações, estudos e publicações em lugares diferentes: o grupo A Cor do Mal-Estar, da Invisibilidade do Trauma ao Letramento, no Instituto Sedes, e o grupo Psicanalistas Atentos às Questões Raciais, no pioneiro Instituto Amma, Psique e Negritude.

O programa Fala, homem!, no campo das relações de gênero e do feminismo, no ar desde 2019, é um projeto de pesquisa e intervenção sobre as masculinidades, abrigado na Casa do Povo. Pensamos que não aprender a lidar com a própria fragilidade, não saber reconhecer e falar de seus afetos, leva os homens a um sofrimento sem nome, que pavimenta o caminho da violência.

Em 2016 lançamos o primeiro episódio de Psicanalistas Que falam, “Lancetti, brasileiro”. Antonio, meu companheiro, partiu pouco tempo depois. Lúcia Lima, minha parceira, em 2020. Seguir é celebrar sua memória e os amores insubstituíveis.

Quando parecia impossível ir em frente, encontrei Ana Prync, que já chegou decidida a sustentar comigo a continuidade da elaboração e da produção da série Psicanalistas que Falam.

ANA PRYNC

Produtora Executiva

Meu nome é Ana Prync, trabalho há 18 anos como Produtora Executiva na área de Economia Criativa. Desde 2018, sou interlocutora da diretora Heidi Tabacof para os projetos da Tupi Produções.

O primeiro trabalho que fizemos juntas foi a retomada do Psicanalistas Que Falam. Dois episódios já estavam lançados no youtube: Lancetti Brasileiro e Chain Katz. O terceiro, da Maria Rita Kehl, estava apenas captado.

Assistir a esse material e não se encantar é impossível. Fazer parte da sustentação e continuidade desse projeto é um privilégio.

Para quem busca a expansão da existência, a construção do discurso civilizatório e o não binarismo sistêmico, Psicanalistas Que Falam é obrigatório.

Em seguida juntou-se a nós, Quelany Vicente, para trabalhar no roteiro de outro filme, agora em processo de viabilização. Quando concluímos a escrita, Quelany se engajou na área de comunicação do Psicanalistas que Falam, para que o projeto esteja visível e acessível no mar revolto da Internet, usando as redes e seus algoritmos para sinalizar o caminho.

QUELANY VICENTE

Produtora Executiva

Cineasta especializada em roteiros, em contações de história, em observação de personagens, em escutas, em diálogos… Autora e co-autora de curtas, médias, longas, séries, para cinema, TV, publicidade, internet, sempre interessada nas pessoas, no que elas podem dizer e representar. Assim também resolveu se aprofundar na psique e passou a estudar psicanálise, por isso, conhecer a Heidi e adentrar no universo de Psicanalistas que falam se tornou um privilégio: poder construir estratégias para que mais psicanalistas falem (com novos episódios) e mais pessoas os escutem (com o trabalho de divulgação das redes sociais que veiculam esse material).

Depois vieram outras e outros parceiros, profissionais do audiovisual, aos quais declaro minha admiração e meu agradecimento. Assim como aos queridos colegas psicanalistas que têm tido o desejo e a coragem de nos confiar a intimidade que move seu pensamento e seu fazer no mundo.

Hoje também constituem a equipe:

Jonas Tabacof Waks

Assistente de Direção

Sou filho de psicanalistas (que falam) e tenho 15 anos de análise pessoal. Minha relação com a psicanálise é atravessada por essas experiências radicais.

Meu contato com a teoria começou com leituras de Freud e Lacan na graduação em filosofia na USP, mas percorri outros caminhos profissionais. Recém-formado, assumi o posto de professor de filosofia no ensino médio da rede pública em São Paulo. Depois dessa experiência (também radical), parti para a Argentina, onde fiz um mestrado em educação na Universidad de Buenos Aires, fui educador popular em movimentos sociais e trabalhei num dispositivo de documentação narrativa de experiências pedagógicas.

De volta ao Brasil, trabalhei com refugiados e co-coordenei a política pública municipal de Educação em Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo (gestão Haddad). Em seguida, coordenei a rede latino-americana de ONGs e universidades que implementam o projeto Comunidades de Aprendizagem em sete países da região.

Atualmente, faço uma pesquisa de doutorado em filosofia da educação, nas Universidades Paris 8 e USP, com bolsa CAPES. Foi nesse contexto que me reaproximei da teoria psicanalítica, ainda que a pesquisa seja sobre a noção de emancipação em Rancière. Primeiro, me inseri do campo dos estudos psicanalíticos da educação. Agora, tenho me dedicado à relação da psicanálise com a filosofia contemporânea, estudando principalmente a obra Guattari, a partir de alguns seminários que cursei na Paris 8.

Aqui na série Psicanalistas que falam, fui assistente de direção de alguns episódios e apoiei o processo de reformulação da identidade visual do projeto.

Julio Dui

Designer Gráfico

Designer gráfico, ilustrador e artista plástico. O seu trabalho de criação, desenvolvimento e pesquisa se encontra no intermeio entre arte e design, focado na transitoriedade entre as diversas mídias e multidisciplinaridade em ambientes digitais.